Estar em todo, ver o horizonte, demarcar com os olhos. Decompor aos poucos: o verde, o azul, seus planos, os meios. Fazer a costura, do olho à mão. O recorte das partes, realinhadas.
Se um dia não existiu, hoje está por tudo. Organizada em um primeiro momento pela visão transmutada em cena pictórica, a paisagem se naturaliza ao tornar-se um motivo da arte, que a explora desde então como motivo privilegiado, definindo modos de ver, educando o olhar. Como denuncia Cauquelin, nem sempre natural. Foi inventada, é uma percepção do tempo e do espaço, permeada e materializada na natureza. Como um modo de ver, depende de construções e sensibilidades estéticas, que ela própria ajuda a construir.
Uma vez produto de um ofício laborioso, uma criação continuada, se desprendeu da perspectiva, do enquadramento, da luz dourada, das pinceladas fugazes que almejavam paralisar a iluminância do sol. A paisagem se desdobra de diferentes maneiras, se apresenta a cada conforme o olho permite, como um espírito, se adapta à quem visita.
A paisagem constrói em seu observador um modo de ver e perceber o mundo ao seu redor, a ordenação dos objetos, suas dimensões, sentidos simbólicos, atua na construção de imagens reais e mentais. A paisagem é, de certa forma, um espelho simbólico, pois enxergá-la é deixar fluir as percepções, invocar imagens e sentidos. Isto porque o mundo visível em si não possui significado intrínseco, mas o ato de percebê-lo ativa registros, memórias, projeções.
O observar é então uma ação individual. Ao observar, organizamos mundos internos aos externos. A paisagem atua em colaboração com o ver na criação de espaços simbólicos e de imaginários compartilhados. Essas ações se desdobram tendo como matéria as próprias percepções subjetivas daquele que se coloca frente a ela, e assim entendemos que não vemos o que está dado no mundo visível, mas sim projeções de nós.
Em Teoria da Paisagem, nos preocupamos com a interpretação da paisagem enquanto elemento criado e recriado pelos olhares particulares aqui reunidos, em suas apreensões e percepções. Pensamos então em três tópicos teóricos que nos orientam e se contaminam nas produções de cada artista: do olhar em trânsito, do olhar decomposto, do olhar mediado. Em cada um destes eixos identificamos questões próprias à construção da paisagem e a mediação do observar, evidenciando sua perspectiva teórica, sua existência enquanto noção: aberta ao desenvolvimento, interpretação, reinterpretação. A paisagem não é um conceito.
Em um primeiro momento e como forma de um resgate histórico, elegemos a pintura como representante de uma forma de captar o ver sensível, uma vez que também é esta a mídia responsável por uma recriação teórico-prática da paisagem enquanto tema, a mídia se transforma e desdobra, se contamina pelo vídeo, pela foto, e principalmente pelo observar.
As paisagens de Nina se tornam elásticas como uma imagem em movimento, em alta exposição, aceleradas, ao mesmo tempo em que se alongam, nos apresentam uma pausa sensível no caminho, o ver ao longe.
Trazido para perto, o zoom de Pedro, por outro lado, retoma o grão, o pixel da foto em um diálogo com as pinceladas e pontos impressionistas, pontilhistas. O ver mediado pela câmera e pelo frame aponta um outro enquadramento, onde a perspectiva e a luz perdem certo espaço, privilegiando a impressão interposta pelo olho do diafragma.
A câmera, enquanto extensão do olho, recorta ainda os micro-elementos da paisagem, que aparece então decomposta, dissecada nos elementos constitutivos de Paulo, que em um exercício de perspectiva decanta os planos, aprofundando o olhar sobre o objeto agora penetrado pelo ver. Em um exercício de seleção, nos lembra que a paisagem é uma produção do olhar, construída pelo ordenamento de elementos em conjunto.
Por sua vez, Letícia disseca, rearranja, recobre a terra, molda a paisagem, matéria sensível que trabalha entre um ver não ver do que se mantém e do que se retira da foto e do espaço, da lembrança guardada, da esquecida.
Mariana satura as cores, acende o olhar, elege outros pontos focais, outros enquadramentos que selecionam minuciosamente o quadro da cena.
Convida-se então o espectador a usar das mesmas lentes na perspectiva de recriar as imagens circundantes, observar seus detalhes, transformações, elasticidade, composições.
Ficha técnica:
Produção Executiva Nina Ricardo • Curadoria Arthur Gomes Barbosa • Mídias Sociais Gabriela Castro e Gabriela Cunha • Assessoria De Imprensa Renato Acha • Design Be Moreira • Projeto Expográfico Arthur Gomes Barbosa Nina Ricardo • Iluminação Jó Calipoteo • Pintura Michael Douglas • Fotografia e Vídeo Estúdio 7um13 e Jean Peixoto • Montagem Arthur Gomes Barbosa e Nina Ricardo • Sinalização e Plotagem Artes Visuais – Comunicação Visual • Mediação Manu Dib • Realização Casa Aerada Varjão