A goiva faz um movimento, rasga as matrizes. O gesto vira registro na mão que ensina, no olho que observa.. Nas oficinas se criam as trocas, o fazer prático, a repetição e os escambos de conteúdo. A prática é coletiva, se espalha por várias mãos: as que gravam, entintam, imprimem, secam, assinam. Existe um quê de herança na gravura, que é passada com um bruto cuidado silencioso.
Conversa Gravada é uma iniciativa que retoma, em certa instância, essa característica de “hereditariedade” e influência mútua da técnica da gravura. Inaugurando a 1ª Edição do projeto “Artista Convida”, que propõe a circulação coletiva de laços entre artistas e suas produções fortalecendo contatos, a mostra se constroi a partir da delimitação de três nomes gravadores: Andrea Campos de Sá, Eduardo Belga e Luiz Gallina, que convidam, cada um, dois outros artistas que encorpam esse grupo singular. Somam-se à essa prosa André Maximilien, Bianca Baeza, Fernando Pedra, Lynn Carone, Rafael Brocchini e Rafael Marques.
A gravura então se reparte: é desenho, é escultura, é impressão. Linguagem, método, poética própria. Nessa divisão, narra sua própria trajetória enquanto mídia que nasce técnica e reprodutiva, ensinada de um para outro nas guildas, ilustrando livros e impressos, sendo múltipla. Se firma independente, se expande em um campo ampliado, engloba outros fazeres que não só o da madeira, do metal, da pedra, mas mantém características.
Certamente, esse grupo aqui reunido forma uma comunidade. Juntamente com seus antigos mestres, colegas e futuros aprendizes. Gravura é herança, que se mantém na tradição, que cada um reinterpreta: a experimentação da gravura como impressão, gravura no campo ampliado orienta a primeira tríade. A segunda nos parece orientada pelo desenho, pela linha e pelo corte, buscando uma materialidade da imagem transpassada entre mídias. Os três últimos parecem entender a gravura como matéria, um desafio a ser conquistado.
As obras, e principalmente, as mãos aqui aproximadas, não se conectam a partir de um rigor curatorial, mas de uma coletividade, de um contato que marca. Mesmo que não mais seguindo a lógica de mestres e aprendizes,por mais que quase todos tenham citado seus mestres gravadores, e aqui saudamos Sidki, Babinski, Falkenbach, Jardim e tantos outros, percebemos uma continuidade que é própria da gravura, nessa conversa agora posta em público.
Ficha técnica:
Produção Executiva Nina Ricardo • Texto Arthur Gomes Barbosa • Expografia Nina Ricardo • Mídias Sociais Gabriela Castro e Gabriela Cunha • Design Mateus Meschick • Iluminação e Montagem Jó Calipotéo • Pintura Gregório Alexandre de Souza • Fotografia e Vídeo Estúdio 7um13 Jean Peixoto • Sinalização E Plotagem Artes Visuais – comunicação visual • Mediação Adriana Teixeira • Realização Casa Aerada