A exposição traz repertórios de técnicas, processos e de materiais bem variados. São quatorze objetos compondo a mostra: tem de pedra, de ferro, de resina, de espuma, de madeira, de pele, de cimento, de cera e algumas levam na composição estrutural o chumbo e o estanho. As ações escultóricas transitam na história, vão desde o ancestral entalhe, a modelagem, a moldagem, a apropriação, o forjamento, a assemblagem até a fundição química de polímeros, como o acrílico. As obras expostas são de lavra recente, praticamente todas foram assinadas em 2023.
Na montagem o autor cria atmosfera bem intimista por meio da expografia arejada, com intervalos para pausas alongadas. Também tira partido da iluminação bem trabalhada para pontuar cada objeto. Pode-se assim observar as peças de modo particular, sem hierarquias entre elas e sem uma rota impositiva para a fruição.
Contudo, a mostra tem sim suas amarrações, ainda que múltiplas. No pano de fundo pairam as duas pandemias que assolaram a vida em todo canto da Terra; a Covid19 e a virulenta Extrema Direita, ambas ainda perturbam demasiadamente a vida por aqui e, em um futuro próximo, veremos muitos desdobramentos terríveis dessas moléstias. Porém, a exposição não é um mero panfleto e nem é uma tese sociológica, pois nem toca diretamente nesses assuntos. Os objetos (alegóricos) nos remetem às questões da sexualidade, do religioso, das lutas identitárias e, sobretudo, põe em questão o papel do masculino nessa paisagem distópica na qual nos encontramos.
No aspecto poético os sincretismos são muitos, não há espaço para puritanismos, para escolas e tradições. O artista é faminto, lança mão de tudo que encontra pela frente, é mesmo um buscador e um incansável trabalhador.
Ficha técnica:
Produção Nina Ricardo • Curadoria Miguel Simão • Expografia Miguel Simão e Nina Ricardo • Iluminação Jó Calipotéo e Miguel Simão • Fotografia e Vídeo Estúdio 7um13 Jean Peixoto • Montagem Matias Valério e Miguel Simão • Sinalização e Plotagem Artes Visuais – Comunicação Visual • Realização Casa Aerada Varjão